segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Mendoza em família


Claro que é impressionante conhecer a imensidão dos vinhedos da Norton, de onde saem 30 milhões de garrafas por ano, e sua forma elegante e profissional de receber  os visitantes. A casa que foi do inglês Norton hoje pertence aos austríacos da Swarovski, a mesma dinastia que faz reluzir os cristais mais cobiçados do mundo.

Norton - Boas vindas com estilo
Ainda assim as vinícolas em Mendoza são, necessariamente, uma coisa familiar. Com famílias mais ou menos ricas, mais ou menos conhecidas, maiores ou menores. A Norton foi a única gigante no nosso intenso roteiro de três dias e centenas de taças de vinho em agosto de 2014 (sim, estou atrasadinha com o blogue...). A começar pelo local onde nos hospedamos (Lujan de Cuyo Bed & Breakfast, um achado no melhor ponto para se percorrer as vinícolas da região, comandado pela encantadora família de Ignácio e seus pais), entramos na casa e na alma de pequenos produtores familiares que oferecerem uma percepção sincera da cultura e, pq não, terroir local.

Começamos a viagem pela bodega Bonfanti. Estela, a matriarca, foi quem abriu a porta logo nos convidando para subir. Do espaço envidraçado avistamos os vinhedos ainda pelados de inverno, salpicados por oliveiras. “Onde há vinhedo antigo sempre tem um pé de oliva”, explicou ela, falando do negócio com o marido e os filhos, agrônomos e enólogos, e das cerca de 50 mil garrafas que saem dali todos os anos. “Na época da colheita contatamos mais umas 20 pessoas para nos ajudar”, acrescenta.

Provamos o Malbec, o espumante e seguimos para a Norton para, então, chegar à Dolium.

A pequena casa ainda cheirava à comida recém servida quando Ricardo abriu um sorriso largo para nos receber. Orientou prontamente suas enólogas, que desciam para a área dos barris. “Tirem mais uma taça por favor. Temos visita”.

Logo Laura nos entregou um vinho Malbec Grand Reserva 2012, que estavam testando para ver se poderiam engarrafar alguns exemplares. “Precisamos de dinheiro para avançar com a produção desse ano”. O lindo vinho já nos sinalizou o que estava por vir.

Enquanto ouvíamos que a Dolium foi, até 2005, produtora dos cobiçados vinhos da Cobos (como por exemplo o Bramare, se vc não junta o nome à pessoa), iniciamos a degustação. Dos mais jovens aos envelhecidos em barrica de carvalho, com direito a degustação horizontal (um Syrah e um Malbec do mesmo ano e mesmo vinhedo, dois Malbecs do mesmo ano e vinhedos distintos...) e vertical (Malbecs de mesma qualidade das safras de 2008 a 2012). Uma aula prática da arte de fazer, beber e compartilhar vinhos.


A essa altura, já tínhamos fome. Foi quando Ricardo nos ofereceu almoço, totalmente fora do script. A massa com queijo e manteiga de sálvia colhida no jardim estava simplesmente perfeita.

Dolium
Irresistível passar pela (cafoníssima) pirâmide  sede dos clássicos da família Catena. Mesmo sem reserva, chegamos a tempo de participar de uma bem feita degustação com a simpática Cecília, com direito a tango à capela no final, e um grupo de animados brasileiros.

Catena Zapata - Irresistível
A noite nos reservava mais uma  surpresa especial: o jantar com a Família Antonietti. Andreas, Norma e Betiana nos esperavam no portão de casa, numa ruazinha de terra em San Martin, a 40min pela autostrada a partir de Lujan de Cuyjo. O pai, enólogo aposentado, a filha formada em turismo. A casa, uma propriedade rural que pertence à família há algumas gerações, foi reformada e conta com um tonéis e cava que, a partir da próxima colheita, farão os vinhos que levam o rótulo Família Antonietti (por sinal, lindamente desenhados por uma artista de Mendoza).

Conhecemos cada cômodo da casa, como amigos que são recebidos de braços abertos pela primeira vez. Enquanto provávamos as adoráveis bruschettas caseiras com o xodó da Família, um gostoso espumante, íamos conversando sobre vinhos e vida. Estávamos à vontade e, lá pelas tantas, fomos à mesa. A entrada foi uma torta de espinafre com salada fresquíssima; depois um ensopado de carne com batata, que ficou marinando de véspera sob os cuidados de Andreas. Acompanhamos com um Bonarda, outra aposta de uva assinatura Argentina, para fazer frente ao onipresente Malbec. E, claro, encerramos com flan com dulce de leche, feito com ovos da granja da casa.

Mendoza não é só vinho. O sábado começou com uma deslumbrante viagem ao Parque Aconcágua. Em cerca de 180km, cruzamos diversas vezes o gigante Rio Mendoza, seco de dar dó. Vimos a Ponte Inca e os pitorescos vilarejos encravados na montanha. Teve neve, teve arco-íris, teve frio, teve trekking para tentar avistar o cume das Américas. E teve sanduíche de milaneza em Uspallata, pq ninguém é de ferro!





 Com a alma repleta com a experiência diante do Aconcágua, fomos ao restaurante 1884 do badalado Francis Malman. A casa foi uma antiga bodega, reformada após incêndio e que ainda produz algumas carragas. Provamos um Malbec 2007 estupendo, melhor da viagem talvez. Acompanhado de burrata e rúcula de entrada (pra mim), seguido de cordeiro com batatas, rúcula e mostarda (espetacular!). Não me lembro o que o Pedro pediu, mas estava muito bom também.

Mas ainda tínhamos fígado para o último compromisso vinícola da viagem: a Viña Cobos, mais esperada de todas por nós. Provar os diferentes Bramare e conhecer a história da família foi o final perfeito para essa imersão na alma de Mendoza, antes de seguir por estradinhas internas até a pitoresca Chacras de Cória para o almoço de despedida.



E #ficadica: para vôos da Argentina ao Brasil, pode-se levar até 12 litros de bebida alcoólica respeitando-se o limite de peso despachado de cada companhia. E detalhe: é permitido carregar duas garrafas na bagagem de mão.

Comer:

Bodegas:

Dormir:

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