domingo, 15 de julho de 2012

O melhor relógio é nosso corpo


Havia acabado de voltar de uma fratura por estresse quando me inscrevi para correr uma etapa de 5km do Circuito das Estações no Rio. Apenas para ganhar motivação e ter um parâmetro para recomeçar. A regra era clara: "Manu, corre bem devagar, tipo 6'30/km, só para o corpo ir voltando. Na verdade, esquece o tempo. Não é para forçar", orientou mestre Zimbra, meu cúmplice de corridas de 1km ou 42km.

Correr devagar. Suave. Sem forçar. Deixei o relógio em casa e fui totalmente desapegada de tempo, colocação e que tais. Delícia de corrida.

Já relaxada no sofá de casa, recebo o SMS oficial da prova: "Parabéns, você completou o Circuito das Estações em 27'04!". Não precisa ser um gênio da matemática para fazer a conta. "Katzo, mas não era para eu ter feito em 33 minutos?!", pensei. Pensei e contei pro Zimbra, que riu e emendou. "Vc não tem jeito, então da próxima vez corre de relógio para poder se controlar".

Cada vez mais tenho certeza: não há melhor relógio que o próprio corpo. Percebi isso naquele dia, lembrei disso quando deixei sem querer o Garmin no hotel no dia da Meia de Buenos Aires e voltei a sentir na pele isso hoje, numa voltinha despretenciosa na Lagoa.

Tô bem acima do peso, correndo feito uma tartaruga e penando para completar os 7,5km do entorno da Lagoa em sofríveis 48min. Olho pro relógio e o pace não cai de 6'10 ou 6'20/km. Era assim até hoje.

Ao sair de casa para a corridinha deste domingo, vi que o Garmin estava sem bateria. Considerei que o outro relógio estava na bolsa no carro. Mas não estava. "Ok, vou de boa mesmo". O relógio de rua logo na saída do Rebouças marcava 20 graus (ótimo para correr!) e 11:14. Parti.

Corri feliz, no ritmo das minhas passadas. Ultrapassando aqui e ali. E, para minha surpresa, cheguei às 11:58. Pace de 5'52/km (praticamente um milagre pra mim ultimamente).

Não tem jeito. A gente tem que ouvir o corpo. E basta.

Correr: Lagoa Rodrigo de Freitas. Ver post Lagoa 24h.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Dinner, o nono do mundo

Estava às vésperas de embarcar para Londres quando saiu a lista 2012 dos melhores restaurantes do mundo. A grande novidade era o Dinner, de Heston Blumenthal, que estreava na relação logo entre os dez mais. Em nono, mais precisamente. Reservei para três.

Um tweet de Felipe Bronze, porém, me deixou assim... com a pulga atrás da orelha:


Gosto é gosto e eu prefiro ter o meu. Fui sem pré-conceitos. Convoquei Caê e Elisa, meus irmãos (que moram na Inglaterra, by the way), demos aquela caprichada no visual, botamos o Oyster card na bolsa e partimos de double deck para o Mandarin Oriental. Tem que se garantir. : )

O nosso era o segundo serviço, o que não costumo fazer. Não curto, ainda mais quando o salão vai esvaziando, esvaziando como foi o caso.  No lounge de espera, pedimos três taças de champagne, que demoraram mais do que o normal para chegar. Suspirei e atribuí o serviço lento e pouco atencioso ao bar lotado, nada mais.

Muitos chineses no salão. O maitre entretido com as mesas com média de idade acima dos quarenta anos (padrão). Fomos recebidos pela equipe de garçons, simpática e explicativa. Falaram do significado das datas ao lado dos pratos (Blumenthal pesquisa suas receitas da história da culinária britânica). Disseram que o Tipsy Cake deveria ser pedido com antecedência para sobremesa pq demorava 45 minutos para ser feito e tiraram uma ou outra dúvida.



Caê, que morou algum tempo em Portugal, logo pediu um tinto alentejano, sua especialidade. As entradas chegaram e Elisa foi quem se deu melhor, com sua Meat Fruit de 1500. Uma "tangerina" por fora e foie gras por dentro. Caê arriscou e foi de Salamugundy (1720) com as chamadas "chicken oysters", uma parte mole do frango (minha memória seletiva me fez esquecer exatamente do que se tratava). Já eu fui de peixe: Hay Smocked Mekerel (1730).

Salamugundy, Meat Fruit, Hay Smoked Meckerel
Entendo que a proposta não é inovar como no Fat Duck. É uma releitura de clássicos ingleses (sem preconceito). A apresentação é cuidadosa e tem traços da cozinha molecular da "casa-mãe". Ainda assim, se Elisa e Caê não tivesse registrado em fotos, se eu não tivesse buscado a cola no cardápio do site, tvz alguns pratos e sabores tivessem se perdido para sempre.

Continuemos.

Meus irmãos carnívoros foram direto aos bois. Elisa de Red Angus (1830), Caê de Prime Rib (1830). Ambos com um ketchup caseiro (muito bom) e batatas triplamente cozidas/fritas. Depois de experimentar as chips de Felipe Bronze, Roberta Sudbrack e Claude Troisgros, acho que tô ficando chata. O meu pato estava ótimo. Pela textura, pelo sabor, pelos vegetais e ervas que o acompanhavam. Realmente especial.

Entre o Rib Eye e o filé de Red Angus, o peito de pato foi o destaque.
Até então o maitre não tinha dado o ar da graça. E a essa altura, já não era mais por conta do movimento do salão, que tinha uma ou duas mesas além da nossa.

Curioso, Caê havia encomendado a super-sobremesa, o tal Tipsy Cake, de 1810, um brioche com abacaxi. Elisa foi para o século XVII e pediu a Taffety Tart (1660), com maçã, rosas, sorvete. O meu foi o Quaking Pudding (1660), com pêra, caramelo, limão. Todos bem feitos.


Aguardávamos ainda a chegada dos carrinhos onde são preparados os sorvetes com nitrogênio. Um dos jovens garçons havia dado a dica. E nada dos carrinhos surgirem como aconteceu com as outras mesas. Solicitei ao primeiro cidadão que apareceu no raio de visão da nossa mesa. Não que estivéssemos com fome àquela altura. Mas queríamos experimentar cada milímetro do nono melhor restaurante do mundo.

A explicação dos toppings foi melhor do que os dito cujos. "It is like a party in your mouth", explicou sobre os crocantes que acompanhavam a bola caseira da Elisa.

Felizes porém não surpreendidos ou arrebatados pela experiência, pedimos a conta. Não constavam os três champagnes bebidos ainda na espera no lounge. Sorte nossa. Assim pudemos, enfim, ter o prazer em conhecer o maitre que, sem graça, veio à nossa mesa agradecer a lembrança para cobrar aquelas quase 60 libras esquecidas.

No segundo andar do ônibus vermelho de volta para a casa da Elisa, em Camden, fiquei pensando na escalação do meu escrete - os 11 mais que já tive o prazer de experimentar (não necessariamente na ordem): ORO, Roberta Sudbrack, Daniel Bouloud, Yamazate, Septime, Joel Roubouchon, Spondi, Jean George, Olympe, Le Pre Catelan, Zin Sushi. E olha que deixei de fora o Gordon Ramsay, alguns clássicos e outros tantos pé sujos do coração no Rio, em Paris, em SP, em Budapeste, em BH, em Moscou, em Noronha, no mundo. Camisa nove? Definitivamente não. O Dinner fica no banco de reservas. E olhe lá.

Comer: Dinner by Heston Blumenthal (Hotel Mandarin Oriental, 66 Knightsbridge. Metrô Knightsbridge ou Hyde Park Corner. Tel. + 44 (0) 20 7201 3833).

Lagoa 24h: remar, correr, comer

Pose para as lentes do querido Fernando Frazão
para matéria que saiu na Veja Rio. Eram 5h da matina!

Nunca escondi que o meu lugar no mundo é a Lagoa Rodrigo de Freitas. É onde fico em paz e posso fazer tudo o que me dá prazer: remar, correr, comer. Amar. Viver.

A Lagoa é viva 24h. O splash dos pescadores jogando as redes de suas canoas durante a madrugada logo dá lugar ao barulho mágico das pás, em sincronia, furando a água para impulsionar barcos de um, dois, quatro, oito pessoas. Vez ou outra o ronco de um motor anuncia marolas. E quando o vento sopra forte, os barcos a remo dão lugar a velas dos garotos da classe Optimist. Isso tudo num intervalo de uma manhã. No maior fair play (tirando a lancha do wakeboard), num território demarcado por leis invisíveis da cordialidade (tirando a lancha do wakeboard) e boa convivência (tirando a lancha do wakeboard).

Mas a vida da Lagoa não se resume a seu deslumbrante espelho d'água. Noutro dia estava pensando nisso. No sábado fui correr às 20:00 para, no dia seguinte, acordar cedinho para assistir a uma Regata do Estadual de Remo. Poucos dias antes havia curtido o cinema no Lagoon e emendado em um jantar memorável no recém-inaugurado Giuseppe Al Mare. Sem falar em meu porto seguro e reduto de glórias do Tricolor: o Bar Lagoa.

E esse post, então, é sobre isso. Como curtir cada um dos 1440 minutos do dia nesse universo chamado Lagoa Rodrigo de Freitas.

Acorde cedo. Não precisa ser como fiz durante dois anos da minha pós adolescência (4h30 com barco na água sem reclamar). Mas espante a preguiça e tente, pelo menos uma vez, curtir o amanhecer cor de rosa ali por trás do Corte de Cantagalo. Se madrugar não é a sua praia, tudo bem. Lá pelas 8h nesse solzinho de inverno a remada é mágica também. O Botafogo (na altura da curva do Calombo, na Epitácio Pessoa) dá aula de remo para pessoas de todas as idades, com professores amáveis e uma nova fotilha para iniciantes. Experimente!

Se for um final de semana, não pense duas vezes. Vá à praia de Ipanema. Basta pegar o civilizado ônibus da linha 157 bem na frente do Botafogo e saltar na altura da Vinícius. Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça!

Vai dar fome. Claro que vai. Mesmo que tenha matado um biscoito Globo com mate de galão (mais limão, por favor!), certamente vc não vê a hora daquele chope geladíssimo escoltado pelo magnânimo filé à milanesa com salada de batatas do infalível Bar Lagoa. Tá, pode ser mais de um chope. Ninguém resiste.
Bar Lagoa no sábado de carnaval 2012.
Tem gente que encara uma ducha no Posto 9 ou 10, com direito a malabarismo segurando a canga com a boca para trocar de underwear. Ou não. O importante é estar de banho tomado e pronto para curtir o cinema no bacaníssimo espaço Lagoon. Os filmes costumam ser blockbusters. Mas as salas são confortáveis e, vai por mim, vc vai ter uma vista surpreendente do Rio de Janeiro. Nos idos de 1997 cheguei a fazer matéria de telejornalismo na faculdade sobre as obras do Estádio de Remo. Levaram quase 15 anos para ficar prontas. E graças a Deus rolou. O complexo de cinemas é um barataço, assim como o pólo gastronômico aberto em junho em cima dos pilotis da arquibancada. Há quatro restaurantes: Gula Gula, Empório Pax, Quadrifiglio Café e Giuseppe Al Mare. Os três primeiros conheço de outras paragens. E o Giuseppe, onde caí por acaso no dia dos namorados, foi a melhor experiência de atendimento que vivenciei aqui no Balneário em muito tempo. Sem falar na boa carta de vinhos, nos petiscos criativos, nos peixes fresquíssimos e bem feitos.
Passeio com o dog tricolor de manhã,
remadinha ao entardecer.
Claro que isso é uma sugestão pouco real. Ninguém vai dar uma corrida depois dessa maratona toda. Mas poderia, se quisesse. Pois a Lagoa está aberta sempre para receber vc. Do jeito e na hora que vc quiser.

Comer: No Bar Lagoa (21 2523-1155) ou em alguma das casas do Lagoon, certamente vc vai encontrar algo perfeito pro seu paladar e astral. Sinceramente, nunca tive grandes experiências nos quiosques que polvilham a orla da Lagoa. Tirando o Gondola Café (próximo ao heliporto mas que, misteriosamente vive vazio), que já não me inspira mais a menor confiança.

Correr: O entorno da Lagoa tem 7,5km. A reforma deu uma melhorada no piso, porém ainda não colocaram as marcações de volta. Cuidado com ciclistas desenfreados e malabaristas - quer dizer, skatistas. Não há pipi stops oficiais, mas a boa vontade dos clubes de remo sempre funciona. Por outro lado, vc vai sempre "tropeçar" em uma as barraquinhas com côco gelado.

Remar: Botafogo, Flamengo e Vasco têm sedes de remo com escolhinha para iniciantes de manhã ou de tarde (no horário de verão vai até de noite). Normalmente é de hora em hora entre cinco e dez da matina. Trata-se de um esporte completo, que seca pernas e abdomen e não tem impacto. No Estádio de Remo há mais dois clubes: Piraquê e Guanabara, que também oferecem aulas. Na altura do Corte de Cantagalo, a Tribus Adventure dá aulas de canoagem em barcos super estáveis de plástico.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Porque Londres não é só Olimpíadas. Três exposições imperdíveis em cartaz!

Hirst e o moisaico de borboletas - foto do Guardian.
Nunca tinha ouvido falar de Damien Hirst até maio passado, quando fui fazer uma das diversas visitas preparatórias e eventos teste para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em Londres. Minha irmã "inglesa" fez as honras da casa. E assim fui parar na Tate Modern, numa fila que parecia interminável (demos sorte e entramos direto pois havia três tickets sobrando para aquele horário).

Impactante é o mínimo que se pode dizer sobre a exposição. Inquietante. Objetos, seres e imagens agressivas suavizadas pela beleza de um diamante, pela disposição em uma prateleira. As borboletas que lembram o borboletário do London Zoo; o ciclo da vida reproduzido pela cabeça de boi rodeada de moscas e luz; a riquíssima caveira brilhando solitária em uma câmara escura; o hipnotizante mosaico de borboletas; o tubarão antes de qualquer plastinização. E você sai de lá pensando, pensando...

 O chocante ciclo da vida. E a delicada caveira de diamantes.

E falando em plastinização, quem ainda tiver estômago também não pode perder a versão animalesca da exposição do avesso dos corpos e órgãos. Saem chineses, entram cavalos, cabras, coelhos, tubarões, gorilas... A anatomia transformada em arte na Animal Inside Out, no National History Museum. Achei um tanto infantil a mostra (e, sim, há criancinhas correndo e gritando aqui e acolá), mas como sempre curti biologia, viajei na complexidade dos vasos sanguíneos, cérebros, músculos.

Sistema circulatório do tubarão - foto do site do NHM.
É rapidinho passar pela exposição (mesmo que vc, como eu, queira ler todas as explicações). Pirei no polvo e no gigante elefante esmiuçado à minha frente.

Ainda sobrou tempo e disposição para mergulhar, ali mesmo no NHM, naquela que foi a mais emocionante da série. Ao menos para mim e para o Caê, meu irmão. "Você também ficou com lágrima nos olhos?". Nem precisei responder.

Imagem do site do NHM

Acabávamos de sair da Scott's Last Expedition, a completíssima coletânea de fotos, sons, objetos... que recontam cada instante da saga de Capitão Scott e seus valentes homens rumo à conquista do Pólo Sul na expedição Terra Nova. A morte de Scott e alguns deles, em campo, faz 100 anos em 2013.

A complexidade de uma operação desse porte em uma época com tão pouca tecnologia (para os nossos padrões, claro) em um ambiente tão hostil e inóspito, a tensão e a rotina daqueles bravos seres humanos, a decepção de chegar ao Pólo Sul e se deparar com o pavilhão norueguês fincado por Amundsen. Tudo é recriado à perfeição ali no NHM. A cabana que abrigou a expedição no Cape Evans foi reconstruída completamente. Imagens do fotógrafo oficial que acompanhou o grupo estão por todos os lados para não deixar mentir, bem como equipamentos usados pelos cientistas. Que fantástico o que produziram esses homens para a posteridade! Quanta ousadia, ambição e obstinação. Comovente.

Imagem do site do NHM

Ver: Scott Last Expedition (ver link no texto. Até 2/9/2012 no National History Museum, Londres), Animal Inside Out (ver link no texto. Até 16/9/2012 no National History Museum, Londres) e Damien Hirst (ver link no texto. Até 9/9/2012 na Tate Modern, Londres). Recomento muito comprar antecipado.

Vale uma visita nesse post sobre Londres também, com dicas bacanas de lugares onde comer, além do passeio no lindo e vivo London Zoo. Inclusive quem for à Tate Modern vale emendar no Borough Market ou no George Inn, sobre os quais comento no post. Ali na área do NHM tem coisas ótimas - descubram e me contem!!!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Só mesmo Ferran Adriá para me botar na cozinha!

Foi lendo o blogue do Pedro Landim que conheci o livro de receitas caseiras do mago Ferran Adriá, de quem o mais perto que cheguei foi através do filme que mereceu post por aqui. Chama-se The Family Meal e traz 31 combinações de cardápios (entrada, principal, sobremesa) que Adriá servia à força de trabalho de seu ElBuli. É uma edição da Phaidon então vcs imaginam a beleza e riqueza da produção.

E só mesmo Adriá pra me levar ao fogão. Foi num sábado qualquer. Tinha passado o dia minhocando da cama pro sofá e levantei para uma corrida na Lagoa no começo da noite. Decidi fazer um cheeseburguer caseiro (logo o Meal 1). No menu proposto, o sanduíche vem com uma salada Caesar antes e um bolo de Santiago depois. Fiquei só no hamburgão mesmo. Incrementei com cebola com shitaque refogados e optei por um emmenthal para derreter. A receita é infalível.

O livro traz proporções para todos os ingredientes para 2, 6, 20 ou 75 bocas!

Cheeseburguer com Chips (2 pessoas)
Ingredientes:
Pão branco (sem miolo) - 7g
Leite integral - uma colher e meia de chá
Carne moída - 250g
Ovo - meio!!!
Sal - 1/4 de colher de chá
Pimenta moída - 1 pitada
Pão de hambúrguer - 2
Azeite de oliva - 2 colheres de sopa
Queijo cheddar - 2 fatias (troquei por Emmenthal)
Batata Chips - 50g (fui de Pringles!)

Modo de preparo:
A edição da Phaidon: Family meal
Pique os pedaços de pão e mergulhe no leite por cinco minutos;
Junte a carne, o ovo, os pedaços de pão no leite, sal e pimenta em uma vasilha. Misture bem com as mãos;
Faça bolas de carne com formato de hambúrguer (mais ou menos 125g cada);
Frite a carna em uma frigideira com o azeite em fogo médio, virando no meio do tempo: 3min para mal passado, 5min para ao ponto, 8min para bem passado;
Corte o pão para o sanduíche e toste rapidamente no forno ou na frigideira;
Coloque uma fatia de queijo sobre cada hambúrguer (ainda quente para que ele derreta);
Monte o sanduíche e bom apetite!

Justiça seja feita, o livro foi presente de natal do irmão Caetano.

PS: Tive a licença poética de complementar com uma fatia de tomate e uma folha de chiória; e um mix de cebola rocha com shitake refogados com um pingo de shoyu.

Dois é ótimo... ainda mais quando se trata de Claude Troisgros!

Pedro com sua clássica cara de "o prato dela é melhor do que o meu. De novo".
Sou fã das carnes da CT Boucherie, nunca fui muito feliz no Bistrô 66, estava super curiosa de experimentar a CT Trattorie e, confesso, não sei por que cargas d''agua jamais tinha sentado numa das poucas mesinhas do Olympe, restaurante-assinatura do mais premiado chef franco-brasileiro.

Pois em dois dias de junho, tive o privilégio de resolver esses dois dos "grandes problemas gastronômicos da minha vida" e promover uma rodada dupla da cozinha de Claude Troisgros. Tudo na vida é pretexto... e o da vez foi o aniversário do Pedro (oba!).

A primeira visita foi ao Olympe, numa terça-feira à noite. Casa com meia ocupação, Troisgros Pai e Filho no salão (com pequenas incursões à cozinha). Como éramos debutantes, fomos direto no menu confiance. A dúvida era harmonizar ou não. Nunca fomos bem sucedidos em harmonizações, por melhores que os sommeliers e/ou os restaurantes fossem. Ainda assim, demos um voto de confiance e entregamos a combinação entre comidas e vinhos a Amilton.

Tenho gostado de escrever aqui no blogue sobre as experiências pelos restaurantes da vida, mas ainda confio demais na minha memória. Não anotei, não fotografei pq acho esquisita essa mania de fazer imagem antes de qualquer garfada (ainda bem que o Pedro clicou uma coisa ou outra!). Conclusão, embora a experiência excepcional esteja gravada no coração e no paladar, confesso que não me recordo da ordem dos pratos nem de tudo o que foi servido ali.

Marcaram alguns momento em especial: os crocantes biscoito de polvinho com um provocante toque de curry; o polvo maciiiiioooo, o cordeiro fantástico com casca de açaí. E a sobremesa. Divina. Uma delicada torta que combinava limão com cupuaçu. Coisa de quem entende.

 Polvo e cordeiro. Até parece que ele adivinhou o quanto eu amo os dois... 

O sorriso cativante de Claude Troisgros, que veio duas vezes à nossa mesa, também não sai da cabeça. Sorriso, bom humor e gentileza. Pesquei um papo em francês do chef com amigos (dele) na mesa ao lado. Apresentava um ravióli e desfilava elogios à batata baroa, para ele um tubérculo interessante, brasileiríssimo e matéria prima para uma de suas criações mais especiais. "Poxa, esse é o prato que tenho certeza de que não poderei provar aqui", lamentei ao receber Troisgros no meio da refeição. "Porque não?", devolve o chef. Expliquei que Pedro DE-TES-TA-VA (com todas as letras e em maiúsculo) qualquer coisa relacionada à baroa. "A minha, não!". E imediatamente orientou à cozinha que preparasse dois raviólis para nós, transformando o menu de cinco para seis cursos.

Não preciso dizer que Pedro adorou.

Os vinhos? Bem, os vinhos não emocionaram. Pelo contrário. Tivemos problemas com o tinto: o primeiro veio bouchonet e foi trocado prontamente por um outro rótulo que, por sua vez, como não agradou, foi substituído - sem burocracia - por um Miolo Lote 43 que não estava à altura do jantar. Os brancos servidos ao longo do caminho também não merecem grande destaque. Pena.

Mas tudo ficou bem quando, de surpresa, o mil folhas de morango do Pedro veio em um fofíssimo prato adornado com "Happy Birthday". Elegante, discreto e gentil.


No dia seguinte, o aniversário propriamente dito, fomos com Rafa, irmão de Pedro, e Gabi à CT Trattorie. Pão quentinho, azeite com aquele cheiro fantástico, um vinho italiano bem escolhido e a genial simplicidade de pratos tão acolhedores quanto deve ser a culinária italiana.

Fui de carbonara (meu 'molho' favorito dos favoritos na vida), que chez Troisgros leva carne seca crocante e desfiada. Hummmm.... Pedro pediu um penne com cordeiro, cogumelo e farofa de panko (farofinha japonesa que é estrela entre os acompanhamentos da CT Boucherie, por sinal). Rafa foi de polpetone. E Gabi recebeu a vedete da noite: fetuccine com manteiga Aviação (notem o detalhe), parmesão e... batata palha! Fantástico.

  Penne com cordeiro, cogumelos e farofa. Fetuccine com batata palha. Tudo na vida é crocância!

Lembrei do meu irmão, Caetano, que desde pequeno botava batata palha em tudo: do strogonoff à lasanha. Bem sabia ele!!

Comer: Troisgros Pai (Claude) e Filho (Tomás) são os afitriões de refeições históricas para todos os gostos. CT Trattorie (21 2266-0838), CT Boucherie (21 2529-2329) e Olympe (21 2539-4542). 

Meu monstrinho


Levei sete anos para botar Pedro, efetivamente, para correr. Lembro quando encarei meus primeiros 21km (foto), ainda com o namoro engatinhando em 2005. Ele foi lá no Aterro de bike me apoiar. Não escondia, porém, que me achava no mínimo maluca. Never say never, já dizia Mary Poppins. E ontem foi a minha vez de recebe-lo na linha de chegada de sua primeira Meia Maratona sozinho. Pra mim, a emoção foi a mesma de ter sido eu a percorrer cada quilômetro. 

Senti naquele sorriso meio exausto, meio em êxtase, o prazer de quem descobriu seu corpo e sua mente a cada passada. Já tínhamos curtido juntos a Meia de Buenos Aires, em setembro último. Mas na Argentina o ritmo foi o meu, a logística foi a minha. Dessa vez não.

Nunca vi tamanha maluquice junta na preparação para uma prova! Treinos, foram cinco, num estilo kamikaze de fazer orgulhar a namorada adepta número um da tática que prega treinar pouco para não cansar na prova! Total de 55km rodados nos 15 dias que antecederam a Meia do Rio - justiça seja feita, acompanhei em 37km destes. Uma garrafa de vinho na quinta (claro que acompanhei), outras duas na sexta (claaaaaro que acompanhei) e alguns gols na pelada de sábado véspera da largada. Um sanduba que enfiei goela abaixo dele no domingo de manhã, quando acordou às 5:30 para passar pelo pórtico às 6:40 na Barra (óbvio que chegou atrasado, boa meu garoto!). Entreguei na mão do Pedro três sachês de gel de carboidrato: "Toma um antes da largada e os outros a cada 40 minutos". Pois recebi os três, intactos, depois da corrida - "Isso é coisa de fraco!", justificou. A única recomendação atendida foi o Advil, para o qual meu queniano albino apelou lá pelo km 10.

Na montanha russa que o Garmin cagoetou, largada a 5'48/km, percurso de altos e baixos entre 5'35/km e 5'16/km pra culminar com surreais 4'34/km, 4'51/km e 4'42/km nos três quilômetros finais.

Resultado: 1h53min01.

"Se não fosse o sprint no final eu perdia para o seu recorde de 1h54min", disse com aquele sorriso que eu adoro.

Sei não, tô criando um monstrinho à minha imagem e semelhança.

Correr: Meia Maratona CAIXA da Cidade do Rio de Janeiro (www.maratonadorio.com.br). Não tem pra ninguém, o melhor evento de corrida de rua do Brasil. Anualmente, no fim de junho/começo de julho.