quarta-feira, 11 de julho de 2012

Dinner, o nono do mundo

Estava às vésperas de embarcar para Londres quando saiu a lista 2012 dos melhores restaurantes do mundo. A grande novidade era o Dinner, de Heston Blumenthal, que estreava na relação logo entre os dez mais. Em nono, mais precisamente. Reservei para três.

Um tweet de Felipe Bronze, porém, me deixou assim... com a pulga atrás da orelha:


Gosto é gosto e eu prefiro ter o meu. Fui sem pré-conceitos. Convoquei Caê e Elisa, meus irmãos (que moram na Inglaterra, by the way), demos aquela caprichada no visual, botamos o Oyster card na bolsa e partimos de double deck para o Mandarin Oriental. Tem que se garantir. : )

O nosso era o segundo serviço, o que não costumo fazer. Não curto, ainda mais quando o salão vai esvaziando, esvaziando como foi o caso.  No lounge de espera, pedimos três taças de champagne, que demoraram mais do que o normal para chegar. Suspirei e atribuí o serviço lento e pouco atencioso ao bar lotado, nada mais.

Muitos chineses no salão. O maitre entretido com as mesas com média de idade acima dos quarenta anos (padrão). Fomos recebidos pela equipe de garçons, simpática e explicativa. Falaram do significado das datas ao lado dos pratos (Blumenthal pesquisa suas receitas da história da culinária britânica). Disseram que o Tipsy Cake deveria ser pedido com antecedência para sobremesa pq demorava 45 minutos para ser feito e tiraram uma ou outra dúvida.



Caê, que morou algum tempo em Portugal, logo pediu um tinto alentejano, sua especialidade. As entradas chegaram e Elisa foi quem se deu melhor, com sua Meat Fruit de 1500. Uma "tangerina" por fora e foie gras por dentro. Caê arriscou e foi de Salamugundy (1720) com as chamadas "chicken oysters", uma parte mole do frango (minha memória seletiva me fez esquecer exatamente do que se tratava). Já eu fui de peixe: Hay Smocked Mekerel (1730).

Salamugundy, Meat Fruit, Hay Smoked Meckerel
Entendo que a proposta não é inovar como no Fat Duck. É uma releitura de clássicos ingleses (sem preconceito). A apresentação é cuidadosa e tem traços da cozinha molecular da "casa-mãe". Ainda assim, se Elisa e Caê não tivesse registrado em fotos, se eu não tivesse buscado a cola no cardápio do site, tvz alguns pratos e sabores tivessem se perdido para sempre.

Continuemos.

Meus irmãos carnívoros foram direto aos bois. Elisa de Red Angus (1830), Caê de Prime Rib (1830). Ambos com um ketchup caseiro (muito bom) e batatas triplamente cozidas/fritas. Depois de experimentar as chips de Felipe Bronze, Roberta Sudbrack e Claude Troisgros, acho que tô ficando chata. O meu pato estava ótimo. Pela textura, pelo sabor, pelos vegetais e ervas que o acompanhavam. Realmente especial.

Entre o Rib Eye e o filé de Red Angus, o peito de pato foi o destaque.
Até então o maitre não tinha dado o ar da graça. E a essa altura, já não era mais por conta do movimento do salão, que tinha uma ou duas mesas além da nossa.

Curioso, Caê havia encomendado a super-sobremesa, o tal Tipsy Cake, de 1810, um brioche com abacaxi. Elisa foi para o século XVII e pediu a Taffety Tart (1660), com maçã, rosas, sorvete. O meu foi o Quaking Pudding (1660), com pêra, caramelo, limão. Todos bem feitos.


Aguardávamos ainda a chegada dos carrinhos onde são preparados os sorvetes com nitrogênio. Um dos jovens garçons havia dado a dica. E nada dos carrinhos surgirem como aconteceu com as outras mesas. Solicitei ao primeiro cidadão que apareceu no raio de visão da nossa mesa. Não que estivéssemos com fome àquela altura. Mas queríamos experimentar cada milímetro do nono melhor restaurante do mundo.

A explicação dos toppings foi melhor do que os dito cujos. "It is like a party in your mouth", explicou sobre os crocantes que acompanhavam a bola caseira da Elisa.

Felizes porém não surpreendidos ou arrebatados pela experiência, pedimos a conta. Não constavam os três champagnes bebidos ainda na espera no lounge. Sorte nossa. Assim pudemos, enfim, ter o prazer em conhecer o maitre que, sem graça, veio à nossa mesa agradecer a lembrança para cobrar aquelas quase 60 libras esquecidas.

No segundo andar do ônibus vermelho de volta para a casa da Elisa, em Camden, fiquei pensando na escalação do meu escrete - os 11 mais que já tive o prazer de experimentar (não necessariamente na ordem): ORO, Roberta Sudbrack, Daniel Bouloud, Yamazate, Septime, Joel Roubouchon, Spondi, Jean George, Olympe, Le Pre Catelan, Zin Sushi. E olha que deixei de fora o Gordon Ramsay, alguns clássicos e outros tantos pé sujos do coração no Rio, em Paris, em SP, em Budapeste, em BH, em Moscou, em Noronha, no mundo. Camisa nove? Definitivamente não. O Dinner fica no banco de reservas. E olhe lá.

Comer: Dinner by Heston Blumenthal (Hotel Mandarin Oriental, 66 Knightsbridge. Metrô Knightsbridge ou Hyde Park Corner. Tel. + 44 (0) 20 7201 3833).

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